Município de Alenquer

Cante Alentejano

Grupo Coral 'Os Ganhões'
Grupo Coral "Os Ganhões"

Contextualização

Em Castro Verde, no coração do Campo Branco, há muito tempo que o cante marca a cadência da vida. A luz é a mesma, mas os dias são outros. O cante agarrou-se ao branco das casas, à rasura da paisagem, à verticalidade das azinheiras e dos homens.

Se outrora teve uma forte ligação ao trabalho, agora é uma catedral de convívio, de encontro, um espaço de afirmação cultural, de identidade e de salvaguarda da memória. Mas também é sinónimo de partilha, de disponibilidade criativa.

Castro Verde sempre teve uma relação pródiga com o cante. Na memória das suas gentes soa esta voz. Na história das recolhas musicais, realizadas em diferentes décadas, o concelho está presente. Por aqui perduram lembranças de grupos que marcaram a infância de cantadores que viriam a ser afamados cá na terra, como o grupo do Ti Zé do Forno ou do Ti Zé Alfredo, numa altura em que a matéria-prima era tanta que os mestres se davam ao luxo de selecionar os mais aptos para a moda.

No colorido mosaico do cante alentejano, Castro Verde contribuiu para reavivar uma das tonalidades mais interessantes: o regresso das mulheres ao cante. O afastamento das mulheres das tarefas comunitárias do mundo agrícola, o aconchego do cante nas tabernas e a formatação dos grupos corais, abafou as vozes femininas.

Após umas breves experiências de cante no feminino em Castro Verde, no início dos anos 70, a Cortiçol – Cooperativa de Informação e Cultura de Castro Verde, em 1984, criou um dos primeiros grupos corais femininos do Alentejo: As Camponesas, um marco importante na história do nosso cante, que ainda hoje perdura. Mas esta também é a terra de Os Ganhões de Castro Verde, grupo que carrega na sua manta uma longa vivência de experiência e saberes e que se tornou uma referência no cante, seis trabalhos discográficos editados, que permitiu caminhar para uma antologia que testemunha a importância do seu cantar.

A par da necessidade de novas letras e melodias sabemos que continua a ser necessário imprimir nas novas gerações a prática do cantar, seja ela espontânea ou formal. Em 1987, Os Carapinhas surgiram com o objetivo de envolver os mais novos, incutindo-lhe o gosto e proporcionando-lhe a aprendizagem do cante.

Se tivermos presente que nas Associações de Cante, existentes no concelho, há jovens que afinaram nos Carapinhas e que hoje desenvolvem um trabalho de coordenação ao nível dos ensaios e cargos directivos. O trabalho iniciado com os Carapinhas trouxe ganhos que fazem a diferença, provando que a visibilidade da sementeira não é imediata e que razão tem a terra quando a aceita e aconchega a semente para que cresça no futuro, algo que por vezes nem sempre é entendido.

O cante viu na estrutura associativa a forma de organizar a sua atividade, juntando à sua dinâmica outras ações no campo da tradição, como a Viola Campaniça ou a recolha de materiais e documentos ligados à memória. Veja-se o caso da Associação de Cante Os Cardadores e da Associação de Cante Vozes das Terras Brancas.

Presentemente, os grupos corais que aqui cantam, desenvolvem a sua atividade, cantam com alma e procuram inovar e afirmar o cante com a dignidade que ele merece, resultado do trabalho ao longo de várias décadas envolvendo pessoas, associações e autarquias locais. Em curso está o projeto “Cante Alentejano no 1º CEB” que provocou o regresso do cante ao recreio, o que há muito não acontecia… Na programação cultural de Castro Verde o cante é uma presença habitual. 

Paulo Nascimento

 

A 27 de Novembro de 2014, durante a reunião do Comité em Paris, a UNESCO classificou o cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade.